Sobre Dívidas VI


O texto mais conhecido de Provérbios que aborda o tema está em 22.7, que diz “O rico domina sobre o pobre; quem toma emprestado é escravo de quem empresta”. Neste texto não há uma proibição categórica quanto a contrair dívidas. Na verdade, o que temos aqui é um sábio conselho para que fiquemos fora de dívidas. No contexto histórico e cultural, havia a possibilidade de se tornar escravo caso o devedor não tivesse a condição de pagar a sua dívida. Primeiramente seus bens pessoais poderiam ser requeridos como forma de pagamento de parte ou da totalidade da dívida, daí a razão do autor de provérbios reiterar sua posição contrária à fiança. Depois, caso não restasse mais bens, seus filhos ou a própria pessoa poderia ser tomada como escrava. É bem possível que este tenha sido o contexto no qual este provérbio foi escrito.

A Dívida no Novo Testamento

No novo testamento o texto mais usado sobre o tema se encontra em Romanos 13.8, “Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a Lei.”

Esta passagem dá continuidade à primeira parte do capítulo 13 de Romanos, que se refere à obrigação que todo o cristão tem de obedecer às autoridades constituídas. (Rm 13.1-7). Logo, na colocação de Paulo, é de se esperar que todo cristão cumpra com seus deveres civis, respeitando as autoridades, como também pagando os tributos estipulados em lei.

É bem possível que não esteja aqui em foco o moderno sistema de crédito, mas apenas que, quaisquer que sejam as dívidas que incorramos, somos obrigados a saldá-las, sejam elas de caráter financeiro ou não. Portanto, não seria razoável interpretarmos o ensino de Paulo neste versículo como sendo uma proibição direta a um eventual sistema de financiamento.

No entanto, quando o apóstolo Paulo escreve aos coríntios declara: “Vocês foram comprados por alto preço; não se tornem escravos de homens.” (1Co 7.23). Embora o contexto não diga respeito à questões de caráter financeiro, não podemos negar que a dívida é uma espécie de escravidão e, portanto, deve ser evitada.

Implicações da dívida no ensino bíblico

Que implicações poderíamos tirar a partir da exposição acima?

1. Não há uma proibição categórica de se contrair dívida

2. A dívida não é, em si mesma, um pecado. No entanto, é possível que o endividamento seja fruto de desobediência (Dt 28.12, 44)

3. A dívida sempre aparece como algo negativo e somos aconselhados a permanecer fora de dívidas (Dt 28.12, 44, Pv 22.7)

4. O Emprestador não deve se prevalecer de sua posição de superioridade financeira para escravizar o tomador. (Lv 25.35-37)

5. Sempre devemos pagar nossa dívidas (Rm 13.8)

Sistema de Crédito

O sistema de crédito não deve ser visto como um mal em si mesmo. O fato é que, a divisão do valor de um bem em parcelas menores, em tese, é uma facilidade para o comprador, pois possibilitam a compra de bens até mesmo de valores mais expressivos.

O grande problema é que as instituições financeiras que oferecem o crédito ao consumidor operam com base no lucro e não com base na caridade, que era o ideal estabelecido na lei de Israel, ou seja, sem a cobrança de juros.

Por esta razão, em geral, quando o consumidor decide comprar a prazo, ele não se pergunta qual será o valor total da compra, e, invariavelmente, poderá pagar até mesmo o dobro do valor à vista daquele item, dependo das condições contratuais estipuladas. Para isto contribuem alguns fatores fundamentais que são: O valor do item adquirido, também chamado de principal, a taxa de juros cobradas, e o prazo de financiamento.

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